Na tarde da última quarta-feira (30), o presidente da CNTE, Heleno Araújo, participou da audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado que debateu a violência nas escolas. O senador Paulo Paim (PT/RS) abriu a reunião exibindo um vídeo onde alunos se agrediam dentro de uma sala de aula. "Recebi essas imagens pelo Whats App e fiquei chocado. E mais preocupado ainda quando mostrei pra alguns professores e eles me informaram que era uma situação relativamente comum", explicou o senador.
O presidente da CNTE, Heleno Araújo, acredita que o mais importante hoje é retomar a democracia: "Somos contra a ditadura militar. Queremos votar pra presidente e até pra diretor de escola, que faz parte desse processo democrático. Construir o projeto político-pedagógico de forma participativa e coletiva continua sendo nosso desafio. Ou a gente traz quem atua ao redor da escola para dentro, ou a gente vai continuar vendo imagens brutais". Heleno Araújo também denunciou a violência que está presente no golpe. "O que é a Emenda Constitucional 95, que congela investimentos em educação por 20 anos, se não uma violência? O que foi a descaracterização do Fórum Nacional de Educação, espaço que era de diálogo e participação social de diversas entidades?", questionou.
Também participaram desse debate a representante do Conselho Federal de Psicologia, Ângela Fátima Soligo, a representante da secretaria de educação do Distrito Federal, Ruth Meyre Mota Rodrigues, e a gerente de notícias da TV Brasil, Cintia Vargas, que apresentou um vídeo com depoimentos de adolescentes que sofrem com automutilação e daqueles que superaram o problema e passaram a ajudar outros jovens. "O bulliyng está muito ligado a automutilação. A gente se surpreendeu com a quantidade de casos e estamos aqui para fazer um alerta para pais e professores", adverte Cintia. A jornalista informou que a equipe da TV Brasil está preparando uma matéria especial sobre automutilação entre estudantes e que vai ser exibida na série Caminhos da Reportagem.
A psicóloga Ângela Soligo apresentou pesquisa sobre violências e preconceitos que envolveu escolas públicas de todo país: "Professores identificam violências não só entre alunos mas também entre professores e coordenadores". Outro aspecto abordado pela psicóloga é a necessidade da cooperação e do diálogo: "É preciso uma política que valorize os professores e que discuta gênero, sexualidade e racismo dentro da sala de aula. Nesse sentido, a proposta do projeto "Escola sem partido" é tóxicao, e por isso deve ser combatida", denunciou.
A professora Ruth Meyre Mota Rodrigues enfatizou: "As escolas não estão separadas da sociedade. A violência física é precedida de outras formas de violência como as simbólicas, entre elas as que envolvem racismo, machismo e LGBTfobia". Para Ruth, é fundamental pensar gênero na educação como forma de não alimentar estereótipos que podem levar à violência. "Racismo e questões indígenas também precisam ser abordados em sala de aula", defende.
Heleno Araújo apresentou as pesquisas, publicações e campanhas que a CNTE vem publicando ao longo dos anos, a exemplo da Retratos da Escola e da campanha Saber Amar é Saber respeitar, como forma de contribuição aos professores e à sociedade.